Este projeto tem como principal objetivo o reconhecimento do edificado existente numa área com cerca de 4,3 hectares, pertencente ao Centro Histórico de Gaia, entre o rio Douro e a rua de Luís de Camões a sul (cota alta da cidade) e, entre a rua de Cândido dos Reis/rua de General Torres. Inclui ainda alguns percursos pedonais transversais a estas vias. A área referida foi subdividida em Unidades de Intervenção de Cândido dos Reis 1, 2, 3, 4, 5 e 6 e para cada uma delas está prevista a produção de Documentos Estratégicos, a desenvolver no âmbito do DL n. 104/2004 de 7 de Maio. A zona de intervenção, detém uma relação muito direta e de deslumbramento com a paisagem que a envolve nomeadamente com o rio de Ouro e a cidade do Porto em fundo. _ Neste quadro, procuramos numa primeira abordagem ao território a intervir, encontrar os denominadores comuns que permitam a salvaguarda da autenticidade e integridade das arquiculturas existentes, as reconhecidas como de valor cultural. _ A Convenção-Quadro do Conselho da Europa sobre Património Cultural, Faro 2005, “reconhece de ‘valor’ para a sociedade o património histórico e cultural, considerados como realidades dinâmicas, resultado de uma fecunda dialética entre o que recebemos e o que legamos relativamente à criação humana. (…) Assim, a diversidade cultural e pluralismo tem de ser preservados, com especiais cautelas, contra a homogeneização e a harmonização indiferenciada.” Guilherme d’Oliveira Martins, ‘Património, herança e memória’, 2009, Ed. Gradiva (Pág 39) _ Este estudo começa com um intenso ‘trabalho de campo’/arquivos/bibliotecas/memórias pessoais e centrou-se no estado de conservação dos prédios (edifícios e logradouros), relevando fundamentalmente as suas condições de segurança estrutural, contra incêndios, salubridade e a necessária abordagem ao seu valor cultural (à sua condição ‘estética’, no referido DL) propriamente e aqui, arquitetónico. Foi abordada em simultâneo a situação socio/económica/cultural (trata-se de comunidade muito frágil) e fundiária de cada prédio e realizados ensaios de viabilidade económica/social para hipóteses de intervenção. _ Constatamos um efetivo e dramático envelhecimento/deterioração dos materiais de construção e impressionantes dificuldades na sua manutenção. Esta situação vem sendo agravada com um conjunto de obras realizadas paulatinamente, de modo casual e frequentemente desconexas e desqualificadas que induzem uma precária higiene doméstica, consequente degradação da qualidade de vida e seus efeitos negativos nas estruturas arquitetónicas. _ Alguns dos resultados relevantes do reconhecimento realizado são os que informam da existência de 63.000,00m2 construídos com uma renda mensal conjunta de cerca de 31.700,00€, distribuídos por cerca de 700 potenciais espaços habitacionais dos quais 80 estão ocupados pelos seus proprietários e que 220 se encontram devolutos. A população ‘residente’ é de cerca de 730 pessoas das quais 100 possuem já mais de 65 anos de idade. Alguns espaços em rés-do-chão tem uma utilização comercial de expressão pouco atrativa. (digamos que constitui um potencial nesta zona da cidade) _ Será oportuno referir que este processo – a reabilitação urbana - pressupõe uma atitude para com o edificado se entendido como complexo cultural arquitetónico, e de paisagem como expressão económica e cultural da comunidade que o construiu de modo lento e nas diversidades. _ Reabilitar aqui, vai incluir na medida aferida a cada situação (prédio a prédio ou por conjuntos), ações de conservação, restauro, demolição, construção nova e, integração de diferentes/novos usos e modos de fruir a cidade. Será também imprescindível a conjugação de interesses dos diversos atores que intervêm no processo – público, privados e técnicos. _ Este trabalho procura ainda proporcionar condições para atrair mais populações e alargar a área de influência do comércio qualificado ao nível do rés/chão do edificado, implementar e requalificar equipamentos de carácter local, apreciar a estratégia em curso para o estacionamento/acessibilidade/mobilidade e induzir uma cultura urbana/arquitectónica que promova a compreensão desse facto como algo determinante na qualidade de vida das pessoas, residentes ou não. Para tal entendemos que é estratégico desenvolver uma cultura de, pelo menos: a) Compreensão da(s) arquitectura(s), na sua globalidade interior/exterior e de interação nos conjuntos. Dos seus desenhos. b) Compreensão da sua construção, os materiais e suas condicionantes e potencialidades físicas e plásticas. De segurança, salubridade e conforto. c) Compreensão da importância do equilíbrio dos sistemas ecológicos existentes. A paisagem no seu todo. _A gestão destes processos será certamente um ato de paciente persistência e resistência de um cada vez mais motivado e culto interesse da comunidade. Esta gestão contra com o estabelecimento de modos de participação dos interessados e pelo desenvolvimento de uma monitorização que possibilite a aferição dos trabalhos em curso. _Será a cidade função de um tempo lento de transformação/sedimentação/transformação do que foi efetivamente possível realizar, - por vezes de modo menos interessante, mesmo para as comunidades que a consomem, á posteriori, - mas também do que não passou de projeto? Nesta condição, temos presentes dois níveis palimpsésticos e dinâmicos, um real e outro virtual de produção de paisagem. Vamos ver.