1 ‘Brook falava muito sobre o rigor e sobre
encontrar o «ser justo», … ele obrigava-nos a redescobrir, a esvaziar, a
limpar, a lavar - para permitir a criação. O espaço vazio é mais do que um
espaço cénico: é um espaço interior.’
João Mota, in O espaço vazio, de
Peter Brook, 1969. Ed. Orfeu Negro.
_Pretende-se que estes equipamentos - espaços com elevados níveis de
complexidade técnica (em especial acústica e vibrações)/multifuncional e
frequentados por públicos e criadores - correspondam com elevados níveis de
sustentabilidade na exploração/manutenção da sala de espetáculos de 500 lugares
com fosso de orquestra, sub-palco e teia, sala de ensaios, camarins, gabinetes,
oficinas e outras valências de apoia á produção residente ou não, foyer,
café/restaurante e instalações sanitárias.
_A partir das
premissas referidas, exploram-se neste caso três dimensões do projeto que nos
parecem evidentes: a da paisagem envolvente;
a do(s) programa(s) e a da
arquitetura que, envolvem um edifício preexistente – o Amarante
Cine-teatro, no que dele foi designado para permanecer e corresponderá
essencialmente à zona de foyers e restaurante. Esta área continuará a ser a
imaginável memória do Cine-teatro. As intervenções a realizar nesta parte do
edifício devem observar as cartas e recomendações internacionais sobre as ações
em património com valor cultural.
_De referir ainda
que, boa parte do edifício correspondente ao que terá sido a versão original - sala
de espetáculos e espaços de apoio, foi ao longo do tempo profundamente desqualificado
com ampliações e alterações incoerentes entre si, excessivas e de péssima
qualidade construtiva. De cine-teatro passou a centro comercial, discoteca e
escritório de empresa de construção civil que, terão tido inclusive, épocas de
simultaneidade de uso. Com exceção da zona de foyer, que é reabilitável, o
restante edifício não possui interesse disciplinar ou outro e não é
reutilizável face à irreversibilidade das intervenções ocorridas e às
exigências legais e programáticas atuais.
_O redesenho que experimentamos
apropria-se parcialmente da matriz estrutural do edifício existente e a
recomposição espacial resultante articula programa preliminar e composição
arquitetónica. As valências fulcrais – sala de espetáculos/palco, conjuntam-se
num único ‘espaço interior’. O volume adossado na retaguarda do edifício faz a
transição de escala com os socalcos a sul e acolhe a sala de ensaios e os
diversos espaços de serviço e apoio.
_O acabamento das
faces exteriores dos novos volumes do equipamento ‘apropria-se’ das colorações
da ‘massa’ vegetal envolvente. A fusão da sala de espetáculos com o palco e a teia,
permitirá como desejado por estas artes de palco, num ambiente negro mate ou
dourado uma afável relação de públicos e criadores.